NENHUM PROJETO, POR MAIS GRANDIOSO QUE POSSA PARECER, FARÁ O MENOR SENTIDO, SE NÃO TIVER POR ESSÊNCIA MELHORAR O MUNDO: GERAR FELICIDADE.

sábado, 8 de novembro de 2008

PRÓXIMA VIAGEM

De repente percebi que estava na hora de desembarcar. A espera de nove meses me havia deixado ansioso em relação ao destino. Como seria lá? Afinal eu estava vindo de um lugar aparentemente seguro, aconchegante e acolhedor para encarar o novo, o desconhecido. Mas, como enfim, não temos como alterar a ordem natural das coisas e o destino é chegado: desembarque imediato.
Não foi fácil adentrar nesse novo mundo. Estava assustado e apreensivo. A princípio escutei sons de várias vozes que se aglutinavam. Finalmente cheguei ao destino esperado. Assustado, não consegui conter o choro e berrei com uma dor que não sabia explicar. Vi adiante um amontoado de seres estranhos que aparentavam me esperar com ansiedade. Fiquei atônito. Naquele momento,  uma linda mulher me acolheu em seus braços, com lágrimas que deslizavam pela face numa demonstração de emoção intensa, dando-me a impressão de que a minha chegada era muito esperada. Subitamente, uma voz masculina vinda do corredor veio a meu encontro e numa demonstração de carinho intenso chamou-me de filho.Eu estava cada vez mais perplexo com tantas coisas novas. Naquele momento senti-me exausto. Tudo que mais queria era dormir profundamente na tentativa de recuperar minhas forças.
E o tempo foi passando e a cada ano descobria e aprendia novas coisas. Na verdade descobri que havia embarcado em outra viagem com destino certo. Resolvi então aproveitar cada caminho por onde passava para deixar uma semente plantada que serviria mais tarde para pôr na bagagem da minha próxima viagem.
Afinal, eu sabia que teria que ir, só não sabia quando e por isso entendi que cada instante era precioso nessa nova jornada. A estada poderia ser curta ou ser longa e eu não tinha acesso a essa informação.
Seis anos passados da minha chegada e eu já compreendia que coisas precisaria selecionar para pôr na minha nova bagagem. Sabia que não poderiam ser coisas matérias, porque essas seriam barradas na alfândega. Então, a cada estrada que percorria, a cada ano que sucedia a minha chegada plantava sementes de amor, de solidariedade, de amizade, de companheirismo, de afeto, de perdão, de indulgência, de tolerância, de paciência e de fé. Estas sim eu compreendia perfeitamente que poderia levar comigo quando a hora fosse chegada. Compreendi que as únicas coisas que deveria levar e que me garantiriam um passaporte para um lugar melhor seriam  as sementes do bem e  do amor que eu plantará. Os títulos, os bens materiais, o poder: tudo isso ficará para trás e daqui a cem anos, provavelmente, o tempo teria se encarregado de corroê-los.
Quando recordamos de alguém que já partiu, o lembramos pelos seus feitos e não pelos bens materiais que nos deixou. Quando pensamos em Cristo, logo nos vem à mente o seu AMOR incondicional, o seu exemplo de humanidade e não a sua pobreza material. Quando lembramos de Hitler, não o citamos pelo PODER e sim pela maldade que ele disseminou e pelo sofrimento que causou. Portanto, pensemos seriamente no que gostaríamos de colocar na nossa mala para esta viagem, afinal, somos nós que a fazemos. E onde vamos desembarcar depende exclusivamente do que nela pusermos.

Janeide Rocha
08/11/2008